A Terra continuará

Barbosa nunca tem certeza da estação do ano. Dia faz frio, dia faz calor, noutros chove e faz frio, ou ainda chove e faz frio e também faz calor. Os efeitos do descaso do ser humano com a Natureza faz com que Barbosa saia de casa numa linda manhã de sol, carregando blusa e às vezes guarda-chuva.
Passando por estas situações Barbosa se vê num novo mundo, onde todas as pessoas voltam a se preocupar com o meio-ambiente justificando suas ações com números alarmantes e estatísticas assustadores sobre o futuro do planeta.
Um exemplo do caos. Hoje vimos com bons olhos as empresas que possuem iniciativas para preservação da floresta amazônica, empresas que antes tinham a visão da Terra como simples objeto de consumo, ou talvez ainda tenham esta visão, porém se ficassem de fora da discussão sobre preservação do meio-ambiente acabariam perdendo credibilidade.
Enfim, estas empresas que se dizem preocupadas com a floresta amazônica investem em "cotas de preservação" (idéia que atualmente é clichê) que é sabido que a muito longo prazo podem dar algum resultado, mas para Barbosa esta idéia é só uma forma enganosa de tentar reparar os erros cometidos no passado, sem nenhuma perspectiva sobre o que vai acontecer no futuro.
A empresa vai até a mata fechada e derruba milhares de árvores que chegaram à fase adulta ao longo de muuuuuitos anos. Depois procura uma ONG qualquer e faz uma doação para garantir o reflorestamento da área desmatada. A ONG por sua vez compromete-se a plantar mudinhas que, nem Barbosa, nem o dono da empresa e nem mesmo a própria ONG irá viver tempo suficiente para avaliar o resultado deste processo.
O dono da empresa garante um "terreno no céu" com sua doação, a ONG aplica parte do dinheiro nas mudinhas, e todos ficam satisfeitos com suas boas ações desde que continuem lucrando. No final, se as mudinhas não vingarem, não haverá culpados pois cada um fez sua parte contribuindo para a preservação da floresta.
Concordando ou não, Barbosa sabe que qualquer idéia que tenha como princípio fazer curativos nas enormes feridas que sangram a floresta amazônica é válida e deve ser apoiada. Melhor fazer pouco e ter esperança do que não fazer nada e parar no conformismo, afinal de contas a Terra continuará.
Barbosa apenas lamenta que pequenas atitutes que deveriam fazer parte do dia a dia das pessoas tenham que ser adotadas apenas quando é a única escolha a seguir, e apenas quando pode-se tirar vantagem das ações.
Assimilando isto, Barbosa acha que mesmo com este céu azul acinzentado, vai chover.