Saudade da Laranjada

Barbosa anda triste ultimamente, com saudade das lembranças do passado que dia após dia vão se anuviando na memória. Em certas ocasiões Barbosa se esforça para resgatar algum pedacinho esquecido de sua infância bem vivida e das histórias por muitas vezes contadas por amigos de familiares. O último pedaço Barbosa conseguiu compilar neste texto confuso e recheado dos sentimentos mais variados.
Na rua tranquila onde Barbosa morava, a brincadeira da vez era o "bafo". Todos os dias Barbosa saía correndo da escola, passava na banca de jornal e comprava dois pacotes de figurinhas (Barbosa não lembra de quem eram as figurinhas) para "bater bafo" com os amigos.
Daquela quarta-feira ociosa, Barbosa lembra que na varanda de casa os amigos se reuniram para "bater bafo" e tomar a deliciosa laranjada que sua avó fazia para agradar, até o momento, seu único neto. Naquela quarta-feira ociosa Barbosa não conseguiu ganhar as figurinhas dos seus amigos, que tomavam a laranjada e conseguiam virar suas figurinhas, conquistando assim o direito de ficar com elas. Barbosa relembra as lágrimas daquela quarta-feira ociosa, Barbosa chorou por perder as figurinhas compradas à pouco.
Passada a brincadeira e, retornando seus amigos para casa, Barbosa ficou ali, sentado na varanda espaçosa do sobrado onde morava olhando para o céu pensando em algo que Barbosa não se lembra agora. Era quase noite quando sua mãe chegou e viu ali, deitado no chão com o olhar distante, seu filho querido.
Por alguns segundos Barbosa sorri quando visualiza aquele abraço carinhoso e aconchegante, e encerra sua viagem a um dia qualquer do passado com o sorriso que mais admira, deixando para trás as lágrimas que antes tomavam conta dos pensamentos de Barbosa.
Agora Barbosa sente-se bem, até quando, não sei.