O que mudou?

Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles homens, mulheres e crianças. Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra esta herança maldita nos dará forças para, amanhã, conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária.
Darcy Ribeiro

Enquanto houver, lembranças

Antes de começar este primeiro parágrafo, Barbosa ficou pensando no que escrever por aproximadamente trinta minutos até chegar à conclusão de que, se continuasse pensando no que escrever, não escreveria absolutamente nada.
Pior, como este espaço serve para reflexões acerca da vida de apenas um rapaz latino-americano, de fato sempre deve haver algo de interessante e que faça este ser iluminado parar alguns instantes num dia qualquer para refletir sobre o que escreve.
Por sorte, as lembranças do passado sempre vêm à tona nesses momentos de vazio intelectual profundo onde Barbosa se encontra constantemente.

Barbosa sempre foi apaixonado por música. Quando criança ficava maravilhado ao ver sua tia dedilhar as teclas do piano, tirando de lá deliciosas melodias melancólicas que, instantaneamente faziam com que Barbosa não ouvisse qualquer ruído que fosse, somente aquelas melodias açucaradas e de vez em quando o barulho sutil do pedal que fazia com que uma simples nota se transformasse numa longa e deliciosa viagem à lugar algum.
Com o tempo essa paixão por música foi ganhando força e o interesse em aprender surgiu, porém Barbosa poderá relembrar este aprendizado em uma outra ocasião mais apropriada. O clima para escrever algo sensato vai aparecendo aos poucos e o momento que tento descrever vai desanuviando e tomando forma na mente.

Em uma das férias escolares de Barbosa, com dez ou onze anos de idade, sua tia pianista escolheu Campos do Jordão para descansar por alguns dias, respirar novos ares e acompanhar mais de perto o Festival de Inverno, principal atração da cidade e que atraía turistas de diversos países.
Para ela, uma ocasião especial, um belíssimo vestido e um lugar no alto e à direita bem próximo do palco, no melhor estilo camarote caríssimo. Já Barbosa, desconfortável com um suspensório vermelho só pensava nas luzes da roda gigante do parque no centro da cidade, isso até os três minutos e dez segundos depois do início do Concerto.
Logo na entrada era possível tomar chá com torrões de açúcar à vontade. Barbosa nunca soube que chá era aquele que todos adoravam e chegavam a repetir, mas sente o gosto dos torrões de açúcar na boca enquanto escreve.

Já acomodado, Barbosa observava aquelas pessoas na parte de baixo e muitas outras nos camarotes ao lado, todas bem vestidas se endireitando nos assentos almofadados, falando baixinho e espiando o palco para tentar ver algo além da enorme cortina vermelha que insistia em balançar com a ajuda do ar condicionado. Podia-se ouvir claramente os últimos ajustes nos instrumentos, um sopro de leve no trompete, alguma nota vinda de um violino e, após alguns minutos o silêncio.

Enquanto um homem de braços compridos se apresentava à platéia logo depois que as cortinas se abriram, Barbosa via-se debruçado no parapeito daquele pequeno espaço por vezes frio, talvez procurando algo que chamasse sua atenção, enquanto sua tia não esboçava nenhuma reação e ouvia atentamente o que aquele homem estava falando.
Assim que o concerto começou Barbosa se viu hipnotizado pelo brilho daquele enorme piano preto e mais ainda pela música que era tocada. Aquele homem da apresentação movia os braços de um lado a outro, para cima e para baixo, e todos os músicos da orquestra com o olhar fixo em cada um destes movimentos davam sentido à melodia que saía do piano, transformando aquela música que por vezes Barbosa ouviu na sala de casa, em uma obra de arte de valor inimaginável.

Ao final do concerto a última lágrima já havia secado e a expressão de Barbosa dispensou qualquer comentário ou pergunta de sua tia, também encantada com o que acabará de presenciar, porém, muito menos surpresa e não tão encantada quanto Barbosa que assistiu um concerto pela primeira vez.
Quanto à música, anos mais tarde Barbosa soube que se tratava do Concerto para piano e Orquestra nº 1 em Si bemol menor, obra escrita pelo compositor Tchaikovsk entre novembro de 1874 e fevereiro de 1875.
Quanto à parte dos três minutos e dez segundos, adiante o vídeo até este ponto e verá que você com certeza já foi presenteado com esta maravilha criada por um gênio.

Realizar é preciso

Algum tempo se passou e este espaço acabou ficando desatualizado. Não por falta de assunto, mas por falta de tempo suficiente para dedicar a atenção e carinho necessários para se manter um blog.
Se bem que os motivos que levam Barbosa a manter este espaço são bem variados, mas o principal deles é mantê-lo como uma espécie de manual para o futuro. Ter informações e reflexões sobre o passado é considerado por Barbosa uma excelente ferramenta de aprendizado para aplicação em situações futuras.

É verdade também que, com muitos outros acontecimentos passados, Barbosa vem aprendendo muitas coisas de que pode tirar proveito no presente e futuro. A última verdade absoluta é que os sonhos que nos movem podem sim tornar-se realidade.
Barbosa está perseguindo um sonho e não irá se desviar do caminho até que este sonho se realize.

Falando de sonhos, é engraçado a forma com que os sonhos acabam se tornando tão importantes na vida das pessoas. Nos sonhos as coisas acontecem de acordo com nossos maiores desejos e aspirações, traçamos um caminho muitas vezes entre as trevas para no final chegarmos num imenso e belo jardim florido onde os pássaros cantam e a brisa leve refresca a pele molhada de suor. Em outras palavras, nos sonhos o final é desenhado da forma que quisermos e sempre nos saímos bem, sempre há o sucesso, sempre conquistamos.

O sonho é uma experiência única, vive-se muitos momentos que ao acordar serão lembrados, porém todas as experiências vividas nos sonhos é intocável, mesmo parecendo às vezes realidade. Isto não quer dizer que quando as pessoas dizem que, sonham em fazer ou ser, elas estão vislumbrando algo que não irá acontecer ou admitindo que seu sonho é apenas isto, um sonho.
Não há vida sem os sonhos. Chego até a dizer que se você não sonha, não há motivos para sua existência, não há motivos para acordar pela manhã e se levantar da cama.

Sonhar é preciso, porém é preciso sempre ver o sonho como um aprendizado para que este possa vir a se tornar realidade. Acreditar que pequenos momentos serão eternos é o papel principal que o sonho desempenha em nossas vidas e nosso papel é fazer com que os sonhos sobrevivam de forma que no futuro possamos alcançá-los.
Acreditar cegamente que um dia sua vida será plena em todos os sentidos é o primeiro passo para que ela realmente seja assim algum dia.

Dia após dia Barbosa vêm construindo tijolo por tijolo o muro que separa o sonho da realidade, deixando espaço para uma porta onde os dois extremos um dia se encontrarão. Da mesma forma que podemos viver momentos únicos dormindo, podemos relembrar bons momentos de fato vividos, proporcionados inicialmente por um sonho que se realizou e à partir daí poder sonhar com outras coisas mais.